Latam: Os consumidores teriam interesse em usar Ozempic?
Ozempic, o nome comercial do medicamento mais famoso baseado no composto ativo semaglutida, tornou-se imensamente popular em todo o mundo em questão de meses. Apesar de ser um medicamento originalmente projetado para o tratamento de diabetes, algumas pessoas começaram a usá-lo como um complemento para seus esforços de perda de peso. Esse uso extraoficial se tornou tão popular que as empresas de alimentos (e até de bebidas alcoólicas) expressaram preocupação (e, em alguns casos, interesse) com a popularidade do medicamento.
Nesse contexto, sabemos se o público da América Latina também está interessado nesse tipo de droga? Dados da YouGov Global Profiles sugerem que a região estaria menos inclinada a usar esses tipos de produtos para mudar sua imagem corporal. Em 15 de maio, apenas 35,3% dos entrevistados na América Latina disseram que a publicidade afetava a percepção da figura. Esse número é estatisticamente menor do que o registrado para todos os consumidores pesquisados pela plataforma globalmente (38,1%). Os latino-americanos também são menos propensos a dizer que desejam ser magros e saudáveis (64,5% vs. 69,4% internacionalmente).
Os latino-americanos também são estatisticamente menos propensos a dizer que contam o número de calorias que consomem (20,6% vs. 28% internacionalmente) ou que geralmente estão tentando perder peso do que todos os entrevistados pela Global Profiles em geral (49,5% vs. 50,4%, respectivamente). Isso, bem como uma aparente rejeição de que os produtos farmacêuticos possam ser um substituto viável para uma boa nutrição, sugere que a América Latina pode não estar tão interessada em consumir medicamentos à base de semaglutida, pelo menos em comparação com outros países.
É importante ressaltar que os medicamentos com semaglutida se mostraram eficazes em outros casos. Novos estudos sobre o uso do Ozempic e do Weglovy (outra formulação que usa o mesmo ingrediente ativo) descobriram que esses medicamentos podem reduzir substancialmente o risco de ataque cardíaco entre os pacientes. Isso significa que os consumidores da América Latina, embora não estejam interessados em usar o produto para substituir ou complementar suas dietas, podem querer usá-lo por seus efeitos positivos na saúde em geral.
Inicialmente, parece que esse pode ser o maior caso de uso da semaglutida na região. Ainda de acordo com os dados da YouGov Global Profiles, 8,7% dos consumidores pesquisados na América Latina afirmam ter diagnosticado colesterol alto (uma doença geralmente associada a problemas cardíacos). O número é estatisticamente maior do que os 7,5% registrados na população em geral. A incidência de diabetes, outra condição que frequentemente ocorre junto com problemas cardiovasculares, é estatisticamente tão frequente na região quanto nos 48 mercados pesquisados como um todo (5,7%).
O problema para esses medicamentos seria a aceitação inicial. De acordo com a Global Profiles, os latino-americanos são muito liberais no uso de produtos farmacêuticos, conforme demonstrado por suas atitudes estatisticamente mais abertas em relação a suplementos alimentares e produtos de venda livre (em comparação com o público global). No entanto, a plataforma também mostra que os consumidores da região são menos propensos a pesquisar novos tratamentos, comprar produtos patenteados ou seguir a orientação daqueles que operam e administram farmácias.
Diferenças entre os países da América Latina
É importante ressaltar que nem todos os países observados na região têm a mesma abertura aparente para novos medicamentos à base de semaglutida. Em comparação com todos os entrevistados da Global Profiles na América Latina, os mexicanos tendem a ser estatisticamente mais preocupados com seu peso e mais abertos ao uso de medicamentos para facilitar a dieta. Por exemplo, 38,7% dizem que a publicidade afeta sua imagem corporal (contra 35,3% na região). Outros 28,3% dos mexicanos acreditam que os suplementos alimentares podem substituir uma dieta ruim (contra 24,5% na região).
Entretanto, em todos os países, há pensamentos estatisticamente mais arraigados na população local (em comparação com a situação regional) que poderiam incentivar a adoção desses medicamentos para perda de peso. Por exemplo, os brasileiros sentem mais pressão da mídia para perder peso (39,2% concordam com essa afirmação, em comparação com 33,6% na região), os argentinos lutam mais para encontrar roupas do seu tamanho (35,3% em comparação com 32,8%) e os colombianos aspiram mais a ser magros e saudáveis (65,9% em comparação com 64,5%).
Nesse contexto, a aceitação da semaglutida na América Latina pode depender, em última análise, de dois fatores: a frequência (e o entusiasmo) com que os consumidores do país procuram novos medicamentos. E aqui, as duas maiores economias da região têm uma clara vantagem: tanto no México quanto no Brasil, as pessoas têm uma probabilidade substancial e estatisticamente maior de pesquisar novos tratamentos antes de perguntar ao médico sobre como usá-los.
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Foto por Iuliia Burmistrova
Metodologia
YouGov Global Profiles é um banco de dados consistente globalmente com mais de 1.000 perguntas em 48 mercados. As informações são baseadas na coleta contínua de dados entre adultos maiores de 16 anos na China e maiores de 18 anos em outros mercados. Os tamanhos de amostra para YouGov Global Profiles flutuam ao longo do tempo, mas o tamanho mínimo de cada amostra é sempre de cerca de 1.000. Os dados para cada mercado usam amostras nacionalmente representativas fora da Índia e dos Emirados Árabes Unidos, que usam amostras representativas da população urbana, e China, Egito, Hong Kong, Indonésia, Malásia, Marrocos, Filipinas, África do Sul, Taiwan, Tailândia, e Vietnã, que usam amostras representativas da população online. Saiba mais sobre Global Profiles.