Brasil: Quem quer uma semana de trabalho de quatro dias?
A agência de consultoria Reconnect Happiness e a organização 4 Day Week Global anunciaram recentemente que farão experiências com uma semana de trabalho de quatro dias no Brasil. O programa piloto, que já foi implementado em países como Reino Unido, Estados Unidos, Espanha e Austrália, será lançado com um pequeno grupo de empresas no próximo mês de novembro. A ideia do projeto é confirmar que a jornada de trabalho também pode ser reformulada no país, ao mesmo tempo em que aumenta a produtividade e a qualidade de vida dos trabalhadores.
Para a maioria dos brasileiros, o sucesso desse experimento seria a realização de um sonho. Em dados do YouGov Profiles, cerca de 52,3% da população do país gostaria de não ter que trabalhar todos os dias. Mas nem todas as pessoas anseiam pela semana de quatro dias com o mesmo entusiasmo: esse sentimento é particularmente forte entre os funcionários sem responsabilidade gerencial nas empresas (60,2% gostariam de não trabalhar a semana inteira) e os supervisores de nível inferior (61,8%).
É importante ressaltar que o programa piloto de novembro no Brasil, de acordo com a Reconnect Happiness, atraiu a atenção de 300 entidades empresariais que desejam participar, desde pequenas companhias e até corporações internacionais. Um fato importante a ser observado é que os funcionários públicos são estatisticamente mais propensos a dizer que gostariam de ter uma semana de trabalho mais curta em comparação com os brasileiros que trabalham em empresas privadas e aqueles que trabalham para organizações sem fins lucrativos.
O tipo de emprego dos brasileiros também influencia seu interesse por uma semana de trabalho de quatro dias. Mais de 60% dos funcionários de grandes empresas (que, de acordo com a classificação oficial, têm mais de 100 funcionários) e médias empresas (com 50 a 99 funcionários) gostariam de não ter que trabalhar todos os dias da semana, estatisticamente mais do que 53,8% dos brasileiros que trabalham em microempresas (onde se desempenham nove ou menos funcionários).
Da mesma forma, 58,9% dos brasileiros com empregos de tempo integral estariam abertos a uma semana de trabalho mais curta, em comparação com apenas 55,8% dos que têm empregos de meio período. Até mesmo o nível de educação e a renda estão correlacionados com o interesse em trabalhar menos dias por semana. 53% dos brasileiros de baixa renda e 56,4% dos brasileiros de renda média estariam interessados em trabalhar menos dias, em comparação com 53,2% das pessoas de alta renda, enquanto os indivíduos com diplomas universitários ou pós-universitários são estatisticamente mais propensos a concordar com a ideia, se comparados com aqueles que concluíram o ensino superior ou possuem menor grau de escolaridade.
Também é importante observar que, mesmo que o programa piloto seja bem-sucedido e uma política oficial para estabelecer uma semana de trabalho de quatro dias no Brasil comece a ser considerada, nem todos os nichos de atividade econômica estariam sob a mesma pressão para implementá-la. De acordo com o Profiles, os trabalhadores dos setores de educação e serviços médicos estão estatisticamente mais interessados na iniciativa do que a média. Em contrapartida, os funcionários da indústria das manufaturas estão estatisticamente menos interessados na proposta.
O tipo de sentimento que os brasileiros têm em relação a seus empregos e como sua vida profissional se atravessa com sua vida pessoal também parece afetar a disposição para uma semana de trabalho de quatro dias. Intuitivamente, as pessoas que dizem que perdem tempo no trabalho navegando na Internet e os brasileiros que dizem que vão ao escritório apenas para ganhar dinheiro são estatisticamente mais propensos a afirmar que gostariam de não ter que trabalhar todos os dias.
De fato, tudo indica que as pessoas que gostam do que fazem não estão tão interessadas em reduzir a sua semana de trabalho. De acordo com o Profiles, 62,9% dos brasileiros que não amam seu emprego gostariam de trabalhar menos dias, em comparação com 53,6% dos que amam suas vidas profissionais. Mais crucial ainda, as pessoas que consideram a família mais importante do que a carreira também são estatisticamente mais propensas a procurar reduzir o número de dias de trabalho por semana.
Isso sugere que uma semana de trabalho mais curta não necessariamente fará com que os brasileiros que odeiam seus empregos fiquem subitamente mais satisfeitos em relação a suas vidas profissionais. Mas abre a porta para um melhor equilíbrio entre vida pessoal e laboral. Isso, no mínimo, deixaria as pessoas mais felizes na maneira como alocam seu tempo. E, a longo prazo, poderia fazer com que as pessoas que menos querem ir ao escritório se sintam menos frustradas com seu trabalho, algo que tem o potencial de melhorar a produtividade.
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Foto por Maskot
Metodologia
YouGov Profiles é baseado em dados coletados continuamente e pesquisas contínuas, em vez de um único questionário limitado. Os dados de perfis para o Brasil são nacionalmente representativos e ponderados por idade, gênero e região. Saiba mais sobre o Profiles.