2 de fevereiro de 2024, Alejandro R. Chavez
Nas últimas semanas, a companhia aérea Gol tem sido cercada de rumores e especulações sobre o seu futuro financeiro. A sua crise começou em 14 de janeiro, com uma reportagem do jornal Folha de São Paulo, em que foi relatado que os membros da companhia aérea poderiam entrar com um processo de falência nos Estados Unidos, numa tentativa de reestruturar suas dívidas. A notícia teve um impacto imediato sobre a avaliação da empresa, pois (segundo dados da Reuters) o preço de suas ações sofreu uma queda de até 13% nas horas imediatamente após a publicação.
Desde então, a empresa tem tentado controlar o impacto negativo das notícias. Dias após o relatório original, a Gol emitiu um comunicado afirmando que já estava em discussões com todos os seus acionistas financeiros para chegar a uma reestruturação "consensual" de sua dívida. No entanto, na declaração, a empresa não fez nenhuma referência ao rumoroso processo de inadimplência, nem elaborou sobre quais processos estavam em discussão para renegociar suas obrigações monetárias. Dados do YouGov BrandIndex sugerem que o impacto sobre a marca, pelo menos até o momento, seria limitado.
A pontuação do Buzz da Gol em 10 de janeiro foi de 21,5 pontos. Em 18 de janeiro, oito dias depois e os dados mais recentes disponíveis na plataforma, a pontuação era de 20,3. Esse indicador reflete quantas pessoas ouviram falar da marca nas notícias, nas mídias sociais ou por meio de amigos e familiares, bem como o quanto essas histórias foram positivas (ou negativas). A falta de uma variação maior sugere que os rumores sobre a falência da companhia aérea não afetaram, por enquanto, sua imagem.
No entanto, há algumas indicações de que os problemas da companhia aérea estão apenas começando. Antes da notícia de um possível falência, a Gol estava em tendência de alta, depois de perder vários pontos de Buzz em 12 de janeiro. Embora pareça não haver uma reação clara à publicação da Folha no dia 14, há uma clara mudança na tendência a partir do dia 17 do mês, dia em que a empresa aérea emitiu sua declaração de esclarecimento. Isso pode ser interpretado como uma reação negativa do público brasileiro à confirmação de seus problemas financeiros.
Esse ajuste repentino para baixo não está presente apenas no indicador Buzz. O índice é um dos dados mais voláteis do BrandIndex e, portanto, nem sempre reflete os desafios (ou oportunidades) fundamentais para as empresas a médio e longo prazo. Medidas como Reputação corporativa, Recomendação, Consideração, Impressão geral e Satisfação do cliente mostram mudanças mais profundas na percepção do público em geral sobre a capacidade comercial e a atratividade das empresas.
E em todos esses indicadores, a resposta da Gol ao boato de falência parece ter tido o mesmo efeito que no Buzz: uma tendência de mudança para baixo. Em todos os casos, a pontuação da empresa parece ter superado a notícia inicial da Folha sem ajustes adicionais. E em todos os indicadores, entre 17 e 18 de janeiro, pode-se perceber uma clara queda na avaliação da empresa. Embora seja necessário mais tempo para confirmar se esse é um efeito persistente ou não, ele representa uma possibilidade perigosa para a segunda maior companhia aérea do Brasil.
Outras companhias aéreas brasileiras aproveitam a crise da falência da Gol
A crise da marca não passou despercebida por suas principais rivais no setor, LATAM e Azul. Nenhuma das duas companhias aéreas viu muita mudança em suas pontuações no Buzz desde que o boato sobre o processo de fracasso da Gol começou a se espalhar. Não parece nem mesmo que a resposta oficial da companhia aérea em 17 de janeiro tenha tido qualquer efeito, adverso ou não, sobre a percepção do público. Isso parece excluir, pelo menos por enquanto, a possibilidade de uma crise em todo o setor no curto prazo.
O que pode ser observado é um possível impulso nos negócios da LATAM e da Azul após a crise de sua rival. Em seus índices de Reputação corporativa e Consideração, especialmente no último, os concorrentes da Gol começaram a adotar uma tendência de crescimento nos dias seguintes ao relatório de falência. Por enquanto, a Gol ainda lidera por vários pontos nessa medição do BrandIndex, e não está claro se esse avanço pode ser mantido no médio prazo.
No entanto, isso representa uma oportunidade para a LATAM e a Azul desferirem um golpe crucial na Gol. Os números sugerem que os consumidores estão se voltando para outras companhias aéreas, mesmo que ainda não esteja claro se a Gol conseguirá sair do processo de reestruturação financeira e de uma possível falência. Nesse sentido, para as três companhias aéreas brasileiras, os próximos meses podem ser fundamentais. Para a Gol, será um teste para ver se ela conseguirá manter sua posição atual como uma das principais participantes do mercado. Para a LATAM e a Azul, é uma oportunidade de ultrapassarem a sua rival.
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Foto por Gol Linhas Aéreas
Metodologia
YouGov BrandIndex coleta dados sobre milhares de marcas todos os dias. A pontuação do Buzz das companhias aéreas é baseada na pergunta: "Nas ÚLTIMAS DUAS SEMANAS, quais das seguintes companhias aéreas você ouviu algo POSITIVO/NEGATIVO (através do noticiário, anúncios, ou através de família ou amigos)?" e entregue como uma pontuação líquida entre –100 e + 100. A pontuação do Impressão geral é baseada na pergunta: "No geral, você tem uma impressão POSITIVA/NEGATIVA de qual das seguintes companhias aéreas?" e entregue como uma pontuação líquida entre –100 e + 100. A pontuação do Reputação corporativa é baseada na pergunta: "Imagine que você está procurando trabalho (ou ajudando um amigo a procurar trabalho). Para quais das seguintes empresas abaixo você estaria ORGULHOSO/VERGONHA de trabalhar?" e entregue uma pontuação líquida entre –100 e + 100. A pontuação do Satisfação do cliente é baseada na pergunta: “De quais das seguintes companhias aéreas você se considera um/uma "CLIENTE SATISFEITO/A" ou "INSATISFEITO/A?" e entregue como uma pontuação líquida entre –100 e + 100. A pontuação do Recomendação é baseada na pergunta: " Quais das seguintes companhias aéreas você RECOMENDARIA/diria para EVITAR a um amigo/a ou colega?" e entregue como uma pontuação líquida entre –100 e + 100. A pontuação do Consideração é baseada na pergunta: "Se você está pensando em comprar uma passagem aérea, de qual das seguintes você consideraria comprar?" e entregue como um percentual. As pontuações são baseadas em uma média de amostra diária de 197 adultos no Brasil entre 10 e 18 de janeiro de 2024. Os números baseiam-se numa média móvel de duas semanas. Saiba mais sobre BrandIndex.