1 de novembro de 2023, Alejandro R. Chavez
Há duas semanas, a relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 8 de janeiro, senadora Eliziane Gama, recomendou às autoridades federais que devem processar o agora ex-presidente Jair Bolsonaro como o "mentor moral" de ataques no início deste ano com o objetivo de reverter os resultados da eleição presidencial e mantê-lo no poder. O relatório representa a conclusão de uma investigação que se estendeu (e capturou os holofotes) por quase meio ano.
Era de se esperar que um processo tão longo e caótico tenha criado uma sensação de incerteza e desespero entre os consumidores brasileiros. Porém, dados do YouGov Profiles sugerem que, embora o humor político da população não esteja em seu melhor momento, ele não parece ter se deteriorado durante 2023: a porcentagem de pessoas que dizem que o país está indo de mal a pior permaneceu quase inalterada em relação a 2022, quando caiu substancialmente em relação a 2021.
No entanto, essa aparente indiferença só é perceptível na comparação nacional. Por gênero e faixa etária, os brasileiros mudaram claramente sua perspectiva sobre a situação do país entre 2022 e 2023. As mulheres e os jovens de 18 a 34 anos estão claramente mais otimistas em relação à perspectiva política do Brasil agora do que há um ano, enquanto os homens e os adultos com 35 anos ou mais estão mais propensos a acreditar que a nação está em declínio.
Próximas etapas (e possíveis efeitos sobre o humor político)
Esses dados sugerem um cenário político mais dividido para o Brasil nos próximos meses. Uma situação que pode se tornar mais complicada devido aos próximos passos do processo: enquanto a CPMI não tem o poder de iniciar uma ação legal contra Bolsonaro, o senador Gama iniciou já uma “turnê” entre várias agências federais para entregar os resultados e incentivar esses órgãos a iniciarem um processo formal. Outros grupos legislativos também estão aumentando a pressão sobre esses órgãos judiciais com suas próprias investigações.
A maior pressão será exercida sobre a Polícia Federal, que já tem um caso aberto em relação aos ataques de 8/1 e conseguiu até mesmo que o ex-presidente comparecesse à sua sede enquanto, lentamente, introduzia ações mais enérgicas contra os comparsas de Bolsonaro. Mas esses esforços não passaram despercebidos: de acordo com o Profiles, embora a confiança nas forças policiais locais tenha caído no Brasil entre 2021 e 2022, ela se recuperou ligeiramente nos últimos 12 meses.
Mais preocupante ainda é o fato de que toda a questão dos ataques de 8/1 pode estar criando uma atmosfera de indiferença em relação ao processo político brasileiro. Em 2021, 47,2% dos consumidores adultos do país pareciam ser participantes ativos da vida política (pois discordavam da afirmação "Sinto-me alienado da política e dos políticos"). Mas esse percentual caiu consistentemente nos últimos dois anos, uma tendência que pode continuar (ou se tornar mais pronunciada) no futuro.
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Foto por Alex Wong
Metodologia
YouGov Profiles é baseado em dados coletados continuamente e pesquisas contínuas, em vez de um único questionário limitado. Os dados de perfis para o Brasil são nacionalmente representativos e ponderados por idade, gênero e região. Saiba mais sobre o Profiles.