Brasil: TV é a forma mais comum de consumir notícias
4 de julho de 2023, Alejandro R. Chavez

Brasil: TV é a forma mais comum de consumir notícias

No final de junho, o governo do Canadá apresentou uma nova legislação para forçar os jogadores digitais, como Google e Facebook, a pagar às empresas de notícias tradicionais pelo compartilhamento do seu conteúdo em suas plataformas. Legislação semelhante foi introduzida em vários países, inclusive no Brasil (com o Projeto de Lei das Fake News, introduzido em março passado), com a intenção de fortalecer o poder econômico da mídia e, ao mesmo tempo, reduzir a disseminação de notícias falsas.

Embora as redes sociais estejam ganhando cada vez mais influência nos hábitos de consumo de mídia dos brasileiros, elas ainda estão longe de ser a principal fonte de notícias no país. De acordo com o YouGov Profiles, 55,4% das pessoas no Brasil dizem que recebem notícias nas redes sociais. A porcentagem ainda é menor do que os 64,2% dos brasileiros que recebem notícias da TV. No entanto, outras fontes de notícias mais tradicionais já foram ultrapassadas pelas mídias sociais.

Apenas três em cada dez brasileiros afirmam ouvir rádio, e pouco mais de um décimo da população do país costuma ler jornais impressos. Um número ainda menor de pessoas, 5,2%, lê versões físicas de revistas. Um pouco mais populares são os sites de jornais estabelecidos, bem como os aplicativos móveis dessas empresas. Portanto, quase nenhuma fonte de informação (com exceção, como mencionado acima, da TV) é mais popular do que a mídia social entre os brasileiros.

Lacuna no tempo de uso

Embora a TV continue sendo o principal canal de consumo de notícias no Brasil, sua intensidade de uso não se compara ao tempo que os brasileiros passam nas mídias sociais. Também nos dados do Profiles, mais da metade das pessoas relatam passar menos de 5 horas por semana assistindo TV. Ao mesmo tempo, quase metade dos brasileiros afirma passar pelo menos uma hora por dia em plataformas como Facebook e Instagram. E as diferenças são ainda mais marcantes com relação aos jornais.

Atualmente, apenas um quinto dos brasileiros passa mais de uma hora por dia, em média, lendo jornais digitais. Além disso, mais da metade dos brasileiros simplesmente diz que não sabe quanto tempo gasta com jornais físicos por semana, ou que simplesmente não consome esse tipo de conteúdo. Embora as redes sociais tenham mais funções do que apenas consumir notícias, o tempo que os consumidores naturalmente passam nelas é uma importante vantagem do setor.

Essas lacunas são importantes devido a um dos argumentos básicos que foram feitas por governos e grupos de notícias em todo o mundo: o poder econômico. Como a maioria desses participantes é sustentada por receitas de publicidade, que aumentam e diminuem de acordo com os níveis de audiência, o controle do mercado é mantido por aqueles que capturam o maior número de usuários e decidem como redirecioná-los para outros canais. Atualmente, esse nível de controle recai principalmente sobre as plataformas digitais, que, com seus algoritmos, decidem o conteúdo que as pessoas veem e, portanto, para onde é mais provável elas irem no futuro próximo.

Onde as notícias falsas são mais perigosas?

Um outro argumento dirigido à remuneração financeira das plataformas digitais para a mídia tradicional gira em torno das notícias falsas. Várias organizações de notícias têm dito que, quanto mais recursos fluírem para a mídia, mais numerosas e eficientes serão as empresas do setor. Isso, por sua vez, permite que elas combatam a desinformação de forma mais eficaz. Além disso, maiores pressões econômicas sobre as redes sociais serviriam - em teoria - como um incentivo para buscar a veracidade das mensagens com mais cuidado.

Essa dinâmica é necessária no Brasil porque as pessoas que se informam principalmente nas mídias sociais parecem mais vulneráveis à desinformação. De acordo com a Profiles, 51,8% dos consumidores no país que obtêm suas informações de jornais físicos dizem que já acreditaram que uma notícia falsa era real, antes de perceberem o seu engano. O número é estatisticamente maior do que os 48,2% dos consumidores que preferem obter suas informações nas mídias sociais e que cometeram o mesmo equívoco.

Isso não significa necessariamente que os leitores de jornais físicos estejam mais expostos a notícias falsas. Pelo contrário, isso parece refletir que os brasileiros que preferem a mídia mais tradicional estão mais protegidos contra a desinformação e, portanto, mais propensos a saber quando uma história é falsa. As pessoas que leem jornais (digitais e físicos) são estatisticamente mais propensas a consumirem notícias com certo nível de desconfiança, em comparação com os brasileiros que obtêm suas informações nas redes sociais.

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Metodologia

YouGov Profiles é baseado em dados coletados continuamente e pesquisas contínuas, em vez de um único questionário limitado. Os dados de perfis para o Brasil são nacionalmente representativos e ponderados por idade, gênero e região. Saiba mais sobre o Profiles.